M I N I - C O N T O

Eis um dos mini-contos seleccionados do 1º Trimestre de 2001 do nosso Concurso Permanente de Mini-contos. É da autoria do português João Ventura, que começou a escrever na adolescência, tendo várias contribuições dispersas (principalmente poesia) no "República Juvenil" e "Diário de Lisboa Juvenil" (ambos de saudosa memória), e em concursos organizados por "O Jornal" (também já desaparecido...).
Mais adiante, teve:
Um conto (A cinza do tempo) publicado na antologia Contos Fantásticos, Fantasporto, 1982;
Um poema (Sísifo) publicado no Anuário de Poesia - Autores não publicados, Assírio e Alvim, 1985;
Um texto curto (O quadro) selecionado como o "texto do ano" no programa "As noites longas do FM estéreo", Rádio Comercial, 1987;
Um conto (Ascensão e queda da telenovela) em 3º lugar no 1º Concurso Nautilus de FC, publicado no nº 72 (Junho 99) do fanzine Somnium, CLFC, SP, Brasil;
Um texto curto (Salvé, Pais Exemplares..., assinado como Zé Maria) publicado no Verão passado no Diário de Notícias em (concurso Eça de Queiroz);
Dois textos semi-recentes (Silly Season e Crime e Castigo na Era do Consumismo) na Web Fiction da Simetria.
Tem várias coisas na gaveta (a marinar...)
professor no Instituto Superior Técnico, onde faz investigação na área da combustão e lecciona as disciplinas "Segurança Industrial" e "Riscos Naturais e Tecnológicos".

NARCISO


Narciso cansou-se de se mirar em charcos e ribeiros. Tornou-se urbano e arranjou um emprego. Polidor de espelhos!

O patrão estava feliz. Nunca lhe tinha aparecido um empregado apaixonado pelo trabalho. Até fazia horas extraordinárias de graça!

Um dia Narciso fez uma experiência. Esperou com ansiedade pela saída dos restantes empregados e do patrão. Pegou nos últimos dois espelhos que tinha polido, cada um com dois metros de altura por um de largura (encomendados por uma loja de pronto-a-vestir) e posicionou-os em frente um do outro, as superfícies tão paralelas quanto possível. Descalçou os sapatos e as meias, despiu a roupa e, completamente nu, colocou-se no meio dos espelhos.

Quando olhou a sua imagem multiplicada até ao infinito, uma onda de prazer com uma intensidade que não supunha possível fez vibrar cada nervo do seu corpo, fez ressoar cada neurónio do seu cérebro...

Morreu de overdose.

14.fev.2001

João Ventura

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