Retrocedersimetria: ficção
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pós-virtual, sensorial
por Soni <[email protected]>

Milénio: segundo. Século: vigésimo terceiro.

À inexistência de primitivas soberanias correspondeu a formação de Estados, dirigidos pela O.E.U.T. (Organização dos Estados Unidos Terrenos). Fora a condição favorável e necessária ao progresso moral, evolução das mentalidades e demais valores acrescidos.

O mundo, espelho do mundo, a simetria, o branco, a harmonia, ordem natural das coisas. Tudo era naturalmente transparente em cada traço arquitectónico ou individual. Desci sobre a cidade, num estado de ausência física. Já eu era o todo que rodeava a superfície terrena, o todo que se infiltrava nas entranhas e me dominava, direccionando-me a um recinto.

Estreia de um filme, cujo palco hexagonal, rodeado pela igualmente harmoniosa audiêancia, era envolvido por uma ténue luz artificial, azul. Imagem que contrariava os imensos e maciços equipamentos negros que proporcionavam o espectáculo. Aquele comandava todas as partículas sensoriais dos presentes, que nunca houveram experimentado sensações primitivas, arcaicas que, teoricamente, não presidiam os tempos actuais, por isso loucas e tidas como irracionais.

Quando um gang, urbanisticamente cinzento e pesado, preparava mais um desfecho de violência, ocorreu uma falha técnica lançando os actores, cuja forma se assemelhava a um estado de plasma, sobre a audiência. O som ensurdecedor de gemidos e pânico associava-se a salpicos de sangue, que rapidamente se transformavam em jorros, correndo velozmente nas peles já entrecortadas, atingindo paredes, chão e ocupantes laterais.

O espectáculo e o recinto experimentaram um espaço unificado. A dor moral e física foi constante.

Abruptamente interrompidos por uma eficiente operação policial, aqueles seres, lascivamente monstruosos, foram arrecadados contra vontade, inerentemente própria.

Restava o vazio, a angústia dos que haviam presenciado e sentido o que nunca lhes ocorrera sentir. Recuperavam as forças que antes, ausentes, os haviam conduzido a um congelamento físico e psicológico. Com o som que emanava o espaço "pós-holocausto", as luzes gradualmente renasciam, tornando visível a dura realidade.

Os corpos das vítimas erguem-se suavemente e retiram a caracterização.

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Título: Pós-virtual, sensorial
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Autor: Soni
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