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Onde Gonçalo Valverde não mede palavras...


crítica
IDORU
de WILLIAM GIBSON

Este livro veio confirmar algo que já suspeitava desde a altura em que tinha lido VIRTUAL LIGHT, ou seja, William Gibson escreveu apenas um livro, excelente e inovador, limitando-se posteriormente a mudar um pouco a história, e apresentá-la sob outro nome como sendo um novo livro. Devo confessar contudo ainda não ter lido DIFFERENCE ENGINE, obra escrita em conjunto com Bruce Sterling; no entanto tenho sérias dúvidas que tal leitura venha a mudar a minha opinião sobre a obra deste autor.

IDORU é de certa forma uma sequela ao livro anterior, VIRTUAL LIGHT e como tal partilha o mesmo mundo e inclusive alguns dos personagens, contudo surgindo neste num papel mais ou menos acessório e em um dos casos em particular, de uma forma muito pouco convincente. Desta vez, o fio condutor para a história é a tentativa de união marital entre o problemático Rez, um guitarrista de uma banda famosa, com Rei Toei, a grande estrela dos media japoneses. Só que Rei Toei existe apenas na realidade virtual. E pouco mais há para contar pois apesar de a ideia base ser até interessante (embora não me pareça ser inovadora), o livro acaba por cair nos mesmos clichés que surgem nas obras anteriores. A história é praticamente uma desculpa para a descrição do mundo em que os personagens se encontram emergidos; a falta de compreensão por parte de Gibson sobre a tecnologia existente é bem mais patente do que em outros livros, e se tal era desculpável em NEUROMANCER (e em certa medida nos outros dois livros seguintes), aqui surge de uma forma demasiado ostensiva, colocando por exemplo termos da Internet para tentar dar uma imagem de actualização dos conceitos, acabando contudo por conseguir apenas exasperar o leitor devido à sua utilização em contextos errados. Mesmo apesar de algumas ideias novas, em IDORU o fantasma de NEUROMANCER encontra-se bem mais patente do que em VIRTUAL LIGHT o que acaba por acentuar a sensação de dejà vu, ou neste caso, de dejà lu. Recomendável apenas para os incondicionais de Gibson ou para quem já não se lembra muito bem de NEUROMANCER, até porque estar sempre a ler sobre o mesmo futuro acaba por se tornar cansativo.

por...

GONÇALO VALVERDE


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Idoru
IDORU


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março 98

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