Retrocedersimetria: paradoxo
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Receitologia de FC...


efeitos secundários: fc na hertzlândia

«Queremos ser para a ficção científica o que a MTV foi para a música», diziam em 1992 Mitch Rubenstein e Laurie Silvers numa entrevista à Omni. «De modo a que possamos tornar-nos no "lar" das mais modernas ideias de FC. Queremos até que a publicidade a emitir seja feita de acordo com o ambiente do canal - como se o início de um anúncio indicasse que tínhamos parado de transmitir a emissão normal e começáramos a receber uma mensagem de algures. A panóplia formidável de tecnologias novas que o canal pretende explorar incluem a realidade virtual, LASERs, computadores e a TV de alta definição».

Chamava-se SCI-FI CHANNEL, e começaria apenas no ano seguinte, difundido por cabo dentro dos Estados Unidos. A ideia tinha surgido anos atrás a Rubenstein, numa espécie de epifania, em que, tentando manter-se acordado numa apresentação monótona relacionada com o mercado da TV por cabo, subitamente surgiu-lhe a ideia de fazer um canal que transmitisse apenas FC. Durante os dezoito meses que se seguiram, lutou, juntamente com a esposa, pela venda da ideia às Maiores produtoras de TV por cabo do seu país, até que, quando se encontravam prontos a desistir perante as recusas recebidas, foram ouvidos pela Telecable... e de súbito, os outros operadores, que lhes tinham dito não, começaram a mostrar-se interessados.

A noção de um canal consagrado à ficção científica não é propriamente inovador; com a quantidade de produções televisivas e cinemáticas sobre o tema ao longo das décadas deste século, desde a saudosa TWILIGHT ZONE de Serling, OUTER LIMITS, DR. WHO, que a ideia aguardava a conjuntura certa de mercado e potencial de lucro para desabrochar. Num país onde o fenómeno televisivo se implantou com tanta vitalidade que traçar um mapa dos canais e das suas orientações é descobrir uma América mais completa e real que a dos territórios e das estatísticas, onde a especialização das audiência e preferências é tão acentuada, haver uma televisão apenas sobre FC não chega a constituir surpresa. O fenómeno interessante foi a reacção do público entusiasta de FC, logo que a possibilidade de concretização do canal se começou a espalhar. Como contam os responsáveis, aqueles que estavam a favor da ideia começaram, espontâneamente, a juntar-se em grupos por todos os EUA e a enviar cartas à estação, oferecendo sugestões, ideias para programas, e mesmo candidaturas de empregos — e o canal não tinha sido sequer inaugurado. Fãs exigiam que os produtores fossem muito sensíveis quanto às «montagens para formato televisivo», a atitude comum nos EUA de fazer cortes nos filmes para inserção de publicidade. Queriam ver a versão integral de DUNE: seis horas e meia! Queriam ver séries internacionais de FC, fantasia e horror com todas as cenas chocantes (algo a que os produtores teriam de ter atenção se quisessem direccionar o canal para uma audiência mais vasta e mais puritana). Os produtores responderam com a promessa de realizarem doze telefilmes por ano, e apresentarem programas originais como o SCI-FI INSIDER, sobre o mundo da FC, e o Science Fiction News, «notícias» baseadas em mundos criados por autores de renome. Envolvidos no projecto, antes de falecerem, estiveram Gene Roddenberry, o criador do CAMINHO DAS ESTRELAS, e Isaac Asimov. Dois anos volvidos, há motivos para contentamento e desconten-tamento. O canal que se propusera a 24 horas de emissão ininterrupta gasta quase um terço em publicidade de demonstrações, por motivos financeiros. O formato original das séries, com o qual se prometera muito respeito, teve de ser adaptado ao gosto do espectador, habituado a formatos televisivos padronizados. E há quem diga que outras televisões têm programas mais interessantes sobre o mundo da FC do que o canal especializado.

Mas, por muitas queixas que possam ter, os americanos têm o seu canal de ficção científica.

O que temos nós?

PARES IMPROVÁVEIS >

por...

Luís Filipe Silva
LUÍS FILIPE SILVA



março 98

Paradoxo
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