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A crítica ao Prémio Caminho '97 — EURONOVELA, de Miguel Vale de Almeida.


(n)europatologias

Na contracapa lê-se que "EURONOVELA é um romance surpreendente, constantemente atraente e perspicaz", bem como tendo como características o humor, a mordacidade e a inteligência. Com um elogio destes, e tendo em conta que foi o vencedor do Prémio Caminho de Ficção Científica de 1997 o leitor só poderá esperar o melhor.

Euronovela tem como cenário a União Europeia (a verdadeira) num futuro mais ou menos próximo, que sofre da obssessão pela standardização e normalização; uma União com 53 estados, dominada em primeiro plano pelos EuroCratas e por trás destes pela Alemanha. É tambem um futuro em que a União Europeia surge juntamente com o Japão como as grandes potências mundiais depois do declínio dos Estados Unidos. E tudo isto a um ritmo que pretende ser o das telenovelas, e a fazer lembrar o 1984 de Orwell e o ADMIRÁVEL MUNDO NOVO de Huxley, com um ligeiro tempero de A NOITE DA SUÁSTICA de Katherine Burdenkin, refogado num tom humorístico-burlesco...ou pelo menos tentado. Condimentos que poderiam ter dado um livro bem mais interessante do que o resultado final. Pode ser que a culpa seja minha, e já esteja por demais habituado ao tipo de humor mais anglo-saxónico de Terry Pratchett, ou a Tom Holt e à sua subtileza, mas as situações que pretendiam ser humorísticas não se me apresentaram como tal, parecendo-me mesmo quase raiando as séries portuguesas típicas de humor que pululam pela nossa televisão. Em termos de estrutura narrativa, esta só muito vagamente se assemelha à das telenovelas brasileiras, especialmente porque estas são constítuidas como a espinha de um peixe, em que a espinha central representa a história principal e dela partindo ou girando várias histórias que envolvem outros personagens, coisa que só muito vagamente sucede em Euronovela. Ainda a grande Maioria dos personagens são meras caricaturas, excessivamente primárias em diversos casos, o que muito possivelmente até será propositado, o que poderia resultar extraordinariamente bem se se tratasse de uma história de Banda Desenhada, mas que aqui se perde. As referências quer a 1984 quer a ADMIRÁVEL MUNDO NOVO são bastante óbvias e acabam por se perder, e infelizmente (ou felizmente) não bastam uma meia dúzia de referências a dois excelentes livros, mesmo que subentendidas e em jeito de inspiração) para fazer um bom livro. É no entanto uma história que se lê razoavelmente bem.

por...

GONÇALO VALVERDE


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Maio 98

Paradoxo
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