a
viagem
No dia 4 de Outubro de 1957, algures na vizinhança do Mar Cáspio, eleva-se nos ares um foguetão, levando para o céu o primeiro satélite artificial da Terra.
Hoje, quase meio século depois, escutam-se os ruídos enigmáticos das fronteiras cósmicas em lugar do bip-bip desse primeiro sputnik. A viagem continua, com outras cores, em busca da água no dark side of the moon, em Europa e noutros satélites jovianos, ainda com uma vaga esperança em Marte. Sempre a querer conquistar o horizonte, tal como há quinhentos anos fez Cabral com a grande "ilha" do Brasil e depois dele os bandeirantes e depois deles todos os exploradores e aventureiros que se perderam em estepes geladas, no mar profundo, nas mais altas montanhas, nas florestas tropicais deste planeta.
Pobre Jules Verne, com a sua Volta ao Mundo em 80 Dias!
O mundo tornou-se veloz em demasia. A vida, se hoje é mais longa, parece às vezes uma viagem ansiosa para alcançar o derradeiro horizonte. Então, a máquina do tempo de Wells transforma-se num cronoscafo com as vigias a mostrarem coisa nenhuma, a não ser a superfície negra da ausência, num túnel que se estreita com a aceleração.
É certo existir uma estética da evanescência. Resta saber se ainda há lugar para as coisas que perduram, para as viagens tranquilas
Seja como for, na literatura, no cinema e nas artes, inventam-se ou reinventam-se roteiros. A sua substância é a de sempre: os sonhos que viajam em REM sleep, as viagens sentimentais dos amantes e as viagens nostálgicas dos românticos, os cadernos de impressões dos pintores, as viagens pelo corpo e do corpo, em busca do outro, as viagens iniciáticas dos místicos, os passeios dos ociosos, o ócio dos poetas, as errâncias sem destino, os caminhos da crueldade.
Tema recorrente na cultura de Ficção Científica e no género da Fantasia, A Viagem é, este ano, o motivo nuclear que nos leva à Periferia do Império. Em busca do horizonte, seja ele evanescente ou duradouro. Isto em Cascais, à beira da Boca do Inferno, nos 5ºs Encontros de FC & F.