Eu já ouvira falar em cancro, bronquite, pulmões sangrentos que desenham manchas escuras nas folhas azuis das radiografias, mas isto era ridículo. O tabaco mata mesmo, disse ele. Quando o meu pai descobriu que eu fumava ficou tão furioso que a raiva que tencionava despejar em mim com um cinto acabou por lhe provocar um aneurisma e matá-lo. A minha mãe morreu duas semanas depois com uma overdose de anti-depressivos e o meu cão morreu de fome porque eu me esqueci de o tratar. As luzes mortiças do bar bruxuleavam no mel do whisky à medida que eu balançava as duas pedras de gelo, tilintantes, no copo. Quando me cansei, prosseguiu, desalentado, pensei que poderia vir a esquecer tudo isso mas, depois do brinde, estando eu a fumar, a minha mulher veio, já bem bebida, beijar-me e, sem querer... incendiei-a. São os malefícios do tabaco, concluiu. E acendeu um cigarro.
|