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eventos 1.02 (20/10/98)
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                        E V E N T O S

             Boletim informativo da SIMETRIA FC&F
- Associacao Portuguesa de Ficcao Cientifica e Fantastico -

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Nº 1.02             Publicacao quinzenal               20/10/98
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Coordenacao: Luis Filipe Silva
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CONTEUDO:

      EDITORIAL: O Nobel na FC
            (reflexoes sobre as tendencias magico-realistas de
             Jose Saramago)

      ARTIGO: A FC e o Mundo Editorial nos Nossos Dias (Parte I)
            (o editor da LOCUS fala-nos da situacao actual
             do mercado internacional)

      O CANTO DO CONTO: Nos Confins, por Jorge Candeias
            (uma pequena ficcao inconsequente e divertida)


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NOTA: Os Links referentes a entidades, pessoas ou eventos men-
      cionados nos artigos encontram-se listados no final do 
      boletim.
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|                  A PEDRA DE LUCIFER                         |
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|           O segundo romance de Daniel Tercio                |
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|         Uma historia alternativa do nosso mundo,            |
|                 contada em Portugues                        |
|                                                             |
|            Coleccao Caminho Ficcao Cientifica               |
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|  http://www.editorial-caminho.pt/                           |
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EDITORIAL


                 O Nobel na FC


«Reflexoes sobre as tendencias magico-realistas de Jose
Saramago», como eu proprio escrevi na introducao deste boletim 
(a virtude do desktop publishig amador e' que se tem autoria de 
tudo - e o trabalho de o fazer) e' um resumo demasiado pretencioso
para o que me proponho fazer, que se trata simplesmente de tecer
alguns comentarios sobre o tema inevitavel: o Nobel do Saramago.

Digo _inevitavel_ por uma questao de timing. Por saber que,
se ha' algo para dizer, que seja dito agora ou calado para sempre, 
pois em breve o assunto ira' arrefecer e ser substituido pelo novo
jogo do Sporting-Benfica.

        Estarei a ser reducionista. Admito. Mas nao posso deixar 
de concordar com a Clara Ferreira Alves que no ultimo Expresso lancou 
uma reprimenda 'as tendencias culturais de Portugal, sempre levadas e
influenciadas pelo entusiasmo do momento. Dizia ela que nao homena-
geamos o nosso Jorge de Sena, que Pessoa apenas foi Pessoa pela
cultura britanica da infancia, que somos demasiado volateis aos
elogios do estrangeiro.

        Sendo assim, que Nobel e', na verdade, o nosso? Arrisco-me
a dizer que e' o Nobel de um certo realismo magico portugues. 
Encontra-se patente na _Jangada de Pedra_, no _Memorial do Convento_
(embora aqui adornado de vestes historicas), na fabulosa ideia do
_Ano da Morte de Ricardo Reis_ (nao fantasia, mas discurso literario),
e num livro singular, mas defeituoso (como adiante explicarei) que
e' a _Historia do Cerco de Lisboa_.

Este livro em particular e' uma obra singela, pois parte de
um tema meta-literario (ou seja, e' um livro que fala sobre litera-
tura) que e' a idoneidade de se poder alterar as palavras colocadas 
no papel pelo autor. Podiamos falar de tradutores, neste caso falamos
de revisores. E o caso apresentado e' o de um revisor que decide, 
num texto de historia sobre o cerco de D. Afonso Henriques a Lisboa,
acrescentar um «nao» numa frase em que se mostrava a ajuda dos 
cruzados franceses 'a dita causa - alterando assim o curso da 
historia do nosso pais.

De que se trata esta forma de enredo? Nada mais nada menos, do
que historia alternativa, ou seja, ficcao cientifica no seu melhor.
E o Saramago prossegue, apresentando duas historias paralelas, a do
revisor que, embora descoberta a sua fraude, e' convidado a desenvolver
a precisa historia, e a da historia que este comeca a escrever. Ate'
aqui, interessante, uma ideia cimentada pela competencia estilistica 
de Saramago (embora por vezes conceda que se possa tornar algo densa).
E o romance desenvolve-se, ate' ao momento em que D.Afonso se vira 
para os seus cruzados e pergunta quem o acompanha. E estes recusam-se.
O que ira' acontecer a Portugal como o conhecemos hoje?

O que acontece e' o seguinte: alguns dos cruzados arrependem-se,
e voltam para tras. Lisboa e' tomada com menos homens e mais esforco, 
mas o resultado e' o mesmo.

E' por isto que digo que o romance e' defeituoso. Trai. Trai a
propria ideia que o motivou. Acobarda-se, no fim, e Saramago
acobarda-se,
literariamente falando, de o levar ate' 'as ultimas consequencias.
Talvez
por sair do tema inicial, talvez por nao conhecer as tecnicas de extra-
polacao historica. O certo e' que a obra poderia ter resultado numa 
dimensao e plenitude Maiores, mas acabou por nao cumprir. E neste caso
Saramago desapontou.

E contudo, os meus sinceros parabens, Jose' Saramago. O Nobel
nao e' para qualquer um!

(Sobre outro assunto: *EVENTOS* ainda mal levantou voo, e ja
mudou de aspecto. Deleitem-se com o belo logotipo feito pelo Luis
Santana, webmaster da Simetria, que veio substituir o primeiro.)

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ARTIGO
                         Publicamos aqui em duas partes (devido a'
                         sua extensao) a comunicacao que o editor 
                         da revista americana LOCUS, «o jornal da 
                         Ficcao Cientifica», proferiu nos 
                         3ºs Encontros em Caiscais.



      A Ficcao Cientifica e o Mundo Editorial dos Nossos Dias

                           (Parte I)


                       Charles N. Brown

     Ha' alguns anos, participei numa conferencia de ficcao cientifica
na Africa do Sul. Ali falei sobre a importancia da FC nas nossas vidas,
de como atravessava as fronteiras dos paises porque se concentrava nas 
ideias, mais do que nas referencias culturais, e de como nos preparava 
para o futuro sempre em mudanca.

    «Pois sim», comentou um escritor brasileiro que se encontrava na 
audiencia, quando chegamos a' vez das questoes, «E' uma perspectiva 
muito interessante, mas me diga, como e' que a gente faz para ser
publicado nos Estados Unidos?»

    Tentei responder-lhe, discutindo os problemas da traducao, da
comunicacao, os problemas culturais, e assim por diante. Era tudo
verdade e importante, mas nao abordavam a razao principal. Acabei
incintando os escritores a estabelecer um genero da FC forte nos 
seus proprios paises: uma literatura brasileira que fosse forte e 
ficcao cientifica ao mesmo tempo. Tambem eles falaram dos problemas
que havia em serem publicados no Brasil - mercados muito pequenos,
livros de autores brasileiros com vendas muito baixas, e o dominio
do mercado pela ficcao comercial vinda da America. Nao tentei 
sequer dar resposta.

     Recentemente, outro autor brasileiro, Roberto de Sousa Causo,
organizou um grupo de discussao na Internet sobre FC internacional.
Existe uma abundancia de informacao sobre o que vai acontecendo 
no mundo da FC, listas de publicacoes, etc. Mas o argumento principal
volta a ser: Porque e' que voces, americanos, conseguem publicar
os vossos livros nos nossos paises, mesmo sendo a Maioria lixo
comercial, mas nao conseguimos nos ser publicados nos Estados 
Unidos, onde se encontra o publico principal?

     Neste ponto tenho de recorrer 'a Historia. Quando o mercado da 
Ficcao Cientifica na America se encontrava em expansao quase exponencial
nas decadas de 60 e 70 (passamos de 80 titulos por ano para cerca de
mil nesse periodo), todos os livros minimanente razoaveis conseguiam
ser publicados. Havia quem editasse livros de FC russa - onde constaram
muitos dos livros dos Strugatski -, havia tambem os livros do 
Stanislaw Lem. Donald A. Wollheim, na Ace e depois na DAW, publicou
varios romances suecos, franceses, alemaes, entre outros. Muitas das
traducoes eram feitas pelos proprios autores, ou por fas entusiastas,
ou por amigos. O resultado por vezes era bom, por vezes muito mau. 
Algumas editoras com mais recursos contrataram tradutores profissionais,
e os livros melhoraram mas mesmo assim nao conseguiram ser bons.
Os melhores foram os traduzidos pela mao de outros escritores:
C.J. Cherryh, Damon Knight, Judith Merril, e outros. O que se passava
e' que nao se limitavam a traduzir o texto - Knigth, por exemplo, 
usou um dicionario de Frances-Ingles para perceber o livro de
Gerard Klein - mas re-escreviam-no e re-construiam-no em ingles 
idiomatico. O resultado nao era uma traducao, mas uma colaboracao
que se traduzia num livro novo que apenas mantinha o titulo do
original e (talvez) o enredo.

     Pelos anos 80 e 90, a' medida que o mercado da FC se expandiu
- hoje em dia sao publicados cerca de 2000 livros por ano - ha cada
vez menos traducoes a ser editadas. Nenhum daqueles livros antigos
- incluindo os dos autores Strugatskis ou Lem - se encontram ainda
disponiveis, e a publicacao de um livro traduzido no genero da FC
e' raro ou impossivel.

     Porque?

     Porque, embora a literatura da FC aborde ideias e cenarios
intelectualmente estimulantes, o mercado e' um empreendimento
comercial destinado a ter lucro. Os autores e os leitores podem
bem falar sobre ideias novas e excitantes, sobre personagens,
enredo, tecnicas de escrita, mas o unico interesse do editor e'
«Como e' que se ganha dinheiro com isso?» E como a bolsa continua
a ser a dele, continua a ser dele tambem a decisao do que e' publicado.

     A ficcao cientifica traduzida dos anos 60 e 70 era comprada
por um nucleo de leitores que queria experimentar perspectivas novas,
ideias diferentes. Chegaram a sair criticas excelentes em publicacoes
de importancia como o New York Times e The Washington Post, mas
este nucleo era pequeno, e, mais importante ainda, os livros nao
eram suficientemente populares para sairem nas grandes tiragens
do formato de bolso (mass-market paperbacks). Nem na forma de 
vendas pequenas mas continuas, ano apos ano (o chamado backlist).

     Hoje em dia, o mercado editorial da FC nos Estados Unidos encon-
tra-se numa fase de maturidade. Ja' nao cresce; esta' em recessao.
A Maioria dos editores tem de escolher entre centenas de titulos para
cada livro que publicam - inclusive livros bons para os quais nao
ha' espaco. Nao precisam sequer de procurar autores em outros paises 
nem de ter os problemas associados com traducoes, pagamentos, etc. 
Isso so' se torna necessario quando nao ha' livros suficientes de onde
escolher. Stanley Schmidt, o editor da Analog, numa conferencia recente,
fez um optimo comentario 'a tarefa do editor. Dizia ele que uma das
suas principais funcoes e' de saber o que os leitores nao gostam. 
O que lhe faz saber isto e' a experiencia acumulada. Este truismo tem
mais forca no dono da editora. Basta-lhe olhar para os resultados das
vendas sem ter de se importar com a boa ou ma' qualidade dos livros. 
So' precisa de saber onde ir buscar o lucro. A' medida que a maturidade
avanca - seja a do mercado ou do individuo - assim avanca o conservado-
rismo associado. Apenas queremos experimentar a mudanca enquantos somos
jovens, em crescimento.

     Podera' esta tendencia mudar?

     Ira' o genero da FC americana voltar a crescer, desenvolvendo uma
audiencia nova que queira conhecer coisas diferentes? Este e', na
verdade, o tema do meu discurso. 

                                         traducao de Luis Filipe Silva

--- O discurso continua no proximo numero de *EVENTOS*

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O CANTO DO CONTO

                         Inauguramos este espaco com o conto de
                         alguem que respondeu ao desafio lancado
                         no primeiro numero de EVENTOS: ficcao
                         curta de indole subversiva. Neste caso,
                         sobre um tema *escaldante*...




                       N O S  C O N F I N S

                        por Jorge Candeias



­ Entra.
A porta fechou-se com um estalido plastico. Ele atravessou-a e 
entrou. A porta abriu, resmungando.
­ Senta-te.
A cadeira flutuou na sua direccao. Ele sentou-se.
­ Fala.
­ Tenho um problema...
­ Que problema?
Ele hesitou um momento, as maos contorcendo-se nos braços 
translúcidos da cadeira.
­ Ontem o painel de navegacao abracou-me!...
Ela flutuou, quase absurdamente. Os seus olhos estenderam-se 
em torno das suas orbitas elásticas e tocaram o cerebro dele. O painel 
tinha-o abraçado.
­ E entao?
­ O que?
As lampadas desceram daquilo que deveria ser o tecto e olharam 
perplexas para o espaço la fora. Uma parede partiu para parte incerta.
­ E entao? Onde e' que esta' o problema?
Ele remexeu-se na cadeira. Ela gostou. A cadeira.
­ Bom... nao foi agradavel... e' isso...
­ Deverei dizer ao painel para nao te voltar a abracar?
A parede voltou, acompanhada da estrelas. As lampadas recuaram,
envergonhadas, e apagaram-se numa breve furia fugidia. Ele girou sobre 
si proprio, ficando voltado de pernas para o ar, embora nao houvesse ar
e as pernas fossem pedacos inuteis de carne indigesta.
­ Creio que seria o mais indicado.
­ E se ele nao quiser?
Pela porta fechada entrou flutuando uma cadeira amarela, feita de 
chumbo pesado. Parou, numa travagem perigosa cheia do chiar de pneus, e 
recitou numa voz musical:
­ "O painel de navegacao pede a comparencia imediata do piloto!"
Após o que voltou a sair. Pela porta fechada.
­ Tera' de ser ajustado! Aliás, ha' ja' algum tempo que ando a 
pensar fazer-lhe uma reparacaozinha!
­ Ele nao vai gostar...
­ Eu quero que ele se lixe!...
A galaxia de Andromeda apareceu entre eles a girar, enquanto piscava 
os seus olhos pestanudos.
­ Ainda estamos muito longe desta menina?
E ele apontava para a galaxia.
­ Faltam ainda quase dois meses.
­ Que chatice!...
A galaxia deitou-lhes a lingua de fora, numa careta liquida, e 
partiu, deixando na parede um buraco de um angstrom de espessura. A
cadeira 
amarela regressou, quase simultaneamente, e recitou de novo a sua
mensagem 
na mesma voz meliflua de há pouco. Depois, atravessou a porta
entreaberta 
e eclipsou-se, deixando no ar o seu cheiro amarelo.
­ Estas a ver? Ele ama-me!...
­ O painel?
­ Claro! Quem querias que fosse?
A nave estremeceu em breves gargalhadas. Um enorme sorriso surgiu, 
la' fora.
­ Cala-te, nave!
O estremecimento aumentou.
­ Bolas! ­ disse ele, e cocou uma orelha com as pernas de tras, 
furioso, alaranjado.
­ E que fazemos com o painel?
E a voz dele tinha a forma de uma serra mecanica:
­ Desliguemo-lo!
­ Nao, nao podemos fazer isso...
Da parede saltou um velho castical, com velas redondas a arder, 
em espiral, enfunadas pela leve brisa que soprava do Norte.
­ Poderiamos tentar mudar-lhe os gostos sexuais.
Uma leve ameaça roçou pelos cabelos dela, que se erguiam, sedosos, 
no ar.
­ Nao! Assim passaria a ser eu a vitima, nao pode ser!
­ Pois sim, mas tu, pelo menos, nao tens de dirigir esta nave, nao 
es tu o piloto.
Um sorriso bebe' nasceu na boca dela. Pos-se de pe', lentamente, e 
atravessou a porta que se abriu, sorridente.
­ Vou falar com ele. ­ gritou ela atraves da porta fechada.
Ele ficou so', acompanhado de um grupo de estrelas e de uma cadeira.
Pouco depois as estrelas sairam, aborrecidas, murmurando bramidos de 
tedio. Ele e a cadeira entreolharam-se com olhos bacos e ele encolheu os 
ombros, indiferente.
Pouco depois ja' dormia.
Acordou abracado 'a cadeira e sentiu uma humidade secreta na roupa. 
A cadeira olhava-o com olhos ambiguos e um sorriso estampado nas costas. 
A nave estremeceu e as paredes recuaram para o espaco. Risos cristalinos
ecoaram no vazio ao mesmo tempo que as luzes se apagavam.


No entanto, ca' de fora, do espaco, tudo se mostrava vulgar, 
convencional, feito de Ficcao Cientifica comum: a nave vogava rapida 
em linha recta, estendendo uma colcha de fogo atras de si, os motores 
rugiam de um modo quase felino e ao longe, num cenario de fita
hollywoodesca, 
iam passando as estrelas e as galaxias numa cadencia uniforme. Como e'
logico e normal, as estrelas passavam muito mais rapidamente que as
galaxias.


­ Psst! Ana!
O murmúrio ecoou pela nave, ressaltando nos cantos como uma bola 
de pingue-pongue. Mas ela nada escutou. Ele compreendeu e deixou-os em
paz.


Mais tarde encontraram-se:
­ Entao? Que tal?
­ Mais ou menos. Ele nao e' grande coisa, mas eu esperava pior.
Um sistema solar entrou pelo buraco deixado por Andromeda e tentou
contar-lhes, bebedo, a historia da sua vida. Eles fugiram-lhe,
escapando-se
atraves da unica porta daquela sala. A tal que esta' sempre fechada.
­ Sabes ­ disse-lhe ele ­, eu estive com uma cadeira.
­ Gostaste?
Encolheu os ombros.
­ Sim...


Esvoacavam algures na nave, perdidos. Ele tomou-lhe um pulso. Ela 
rodopiou, a saia de gaze estendendo-se em ondas maritimas pelo espaço e 
levou-o consigo em direccao ao tecto. Embora ali nao houvesse tecto. Ele 
puxou-a para si.
­ Ana... ­ disse ele.
­ Sim?
Uma sombra vermelha cobriu as luzes.
­ Gostava de experimenta'-lo contigo.
­ ...
Algures na nave, num sitio perdido, as luzes fecharam os olhos.


Era uma vez um velho muito velho, um velho excitado e tremulo, 
como todos os velhos. Dizia este velho, como a Maioria dos velhos, que a 
juventude estava perdida, completamente depravada, alienada, meu Deus, o 
que ele dizia! Achava inumana, abjecta, a actividade sexual com paineis, 
cadeiras, galaxias, etecetera. E dizia-o em alta gritaria a todos os que 
o quisessem ouvir. Nao eram muitos.
Uma vez explicaram-lhe que as viagens espaciais sao longas e 
aborrecidas, que as tripulacoes sao formadas normalmente por dois tripu-
lantes de, normalmente, sexos opostos, que a unica coisa que eles tem 
para fazer nessas viagens e' dar uma olhadela aos instrumentos de bordo 
de vez em quando, digamos, uma vez por mês, pois o computador
encarrega-se 
de tudo, e que no tempo restante o tedio e' o seu unico companheiro. 
O tedio e os objectos inanimados, os paineis, cadeiras, galaxias,
inumanidades. Assim, que melhor passatempo que o sexo?
O velho nao quis compreender. Dizia que era imoral. Puxou da sua
forma de razao, puxou de livros sagrados, puxou de leis poeirentas.
Entao
desafiaram-no e fazer uma pequena viagem, so' ate' 'a Pequena Nuvem de
Magalhaes. Aceitou o desafio, se bem que relutante.
Dois meses mais tarde, a meio da viagem, a nave explodia em 
paroxismos de gozo.


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