Onde se esclarece porque
foi escolhida a galinha dos ovos de ouro como
prato principal do festim.
Ser leitor de ficção
científica em Portugal é aceitar com
passividade as más traduções, as publicações
ocasionais, as encadernações baratas, as capas
de mau gosto, as obras datadas e quase
esquecidas, a ignorância dos editores
relativamente ao que de moderno se está a fazer
lá fora, a condição de isolamento, as
livrarias que se recusam a ter o material, e o
franzir desdenhoso do intelectual de café quando
nos descobre a praticar o pecado da leitura por
prazer.
Ser escritor de ficção
científica em Portugal é aceitar com menos
passividade mas pouco resultado o desprezo da
Maioria das editoras, o relegar para edições de
bolso, o habitar das prateleiras mais escondidas
das livrarias, bem longe do olhar das obras dos
escritores «decentes» e dos olhares dos
leitores com um mínimo de «bom-gosto», a falta
de divulgação, o desconhecimento dos críticos
e o afastamento cultural.
Ser simplesmente
apreciador de ficção científica em Portugal é
não ter sequer hipótese de formar uma opinião
informada, é não ter direito ao mau-gosto
porque não lhe são dadas quaisquer alternativas
de escolha. Aqueles que não têm remédio, optam
pelos filmes e pelas séries, e serão
eternamente pobres na escolha que fizeram.
Isto tem de acabar.
Porque a ficção
científica é a literatura do Século XX, criada
e desenvolvida como reacção ao progresso e à
incerteza da mudança.
Porque a ficção
científica não tenta apenas precaver o futuro,
é a única forma de arte a tentar compreender o
presente.
Porque a ficção
científica é mais do que mais uma forma de
literatura: é uma manifestação cultural com
identidade e linguagem próprias, e para muitos,
é uma filosofia de vida.
Porque a ficção
científica alia a razão com o mito, e logo
está melhor preparada para compreender o ser
humano.
Porque a ficção
científica forma uma comunidade a nível
mundial, e Portugal não se encontra presente.
Porque a ficção
científica não aceita intelectualismos nem
atitudes de intolerância cultural: o seu
horizonte estende-se a todas as sociedades, a
todas as raças e culturas, e nas duas
direcções da seta do tempo, em direcção ao
infinito.
Porque a ficção
científica não existe em tomos bolorentos
dentro de sótãos fechados: usa o universo
inteiro como pátio de recreio.
Porque a ficção
científica não se leva demasiado a sério.
A SIMETRIA surgiu para acabar de vez com a
passividade.
Esta é uma Associação
de amantes da ficção científica e literatura
fantástica de Portugal. Perfeitamente assumidos
e sem vergonha de o ser.
Estamos conscientes das
ramificações para as outras artes, para não
esquecer que, ao contrário de certas crenças,
não existiriam hoje filmes ou jogos ou banda
desenhada ou brinquedos para as crianças ou
sequer uma atitude descontraída e até curiosa
sobre o futuro se não existisse uma literatura
adulta e consciente de si própria, que servisse
de referência e identidade aos amantes da
ficção científica a nível mundial.
A Associação destina-se
aos que amam e aos que odeiam, aos que são
indiferentes e aos que nunca ouviram falar.
Sejam, portanto, bem
vindos ao nosso festim. Garantimos que o prato
principal é uma especialidade.
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