Na contracapa lê-se que "EURONOVELA é um romance surpreendente,
constantemente atraente e perspicaz", bem
como tendo como características o humor, a
mordacidade e a inteligência. Com um elogio
destes, e tendo em conta que foi o vencedor do
Prémio Caminho de Ficção Científica de 1997 o
leitor só poderá esperar o melhor.
Euronovela tem como
cenário a União Europeia (a verdadeira) num
futuro mais ou menos próximo, que sofre da
obssessão pela standardização e
normalização; uma União com 53 estados,
dominada em primeiro plano pelos EuroCratas e por
trás destes pela Alemanha. É tambem um futuro
em que a União Europeia surge juntamente com o
Japão como as grandes potências mundiais depois
do declínio dos Estados Unidos. E tudo isto a um
ritmo que pretende ser o das telenovelas, e a
fazer lembrar o 1984 de Orwell e o ADMIRÁVEL MUNDO NOVO de Huxley, com um ligeiro tempero
de A NOITE DA SUÁSTICA de Katherine Burdenkin, refogado
num tom humorístico-burlesco...ou pelo menos
tentado. Condimentos que poderiam ter dado um
livro bem mais interessante do que o resultado
final. Pode ser que a culpa seja minha, e já
esteja por demais habituado ao tipo de humor mais
anglo-saxónico de Terry Pratchett, ou a Tom Holt
e à sua subtileza, mas as situações que
pretendiam ser humorísticas não se me
apresentaram como tal, parecendo-me mesmo quase
raiando as séries portuguesas típicas de humor
que pululam pela nossa televisão. Em termos de
estrutura narrativa, esta só muito vagamente se
assemelha à das telenovelas brasileiras,
especialmente porque estas são constítuidas
como a espinha de um peixe, em que a espinha
central representa a história principal e dela
partindo ou girando várias histórias que
envolvem outros personagens, coisa que só muito
vagamente sucede em Euronovela. Ainda a grande
Maioria dos personagens são meras caricaturas,
excessivamente primárias em diversos casos, o
que muito possivelmente até será propositado, o
que poderia resultar extraordinariamente bem se
se tratasse de uma história de Banda Desenhada,
mas que aqui se perde. As referências quer a
1984 quer a ADMIRÁVEL MUNDO NOVO são bastante óbvias e acabam
por se perder, e infelizmente (ou felizmente)
não bastam uma meia dúzia de referências a
dois excelentes livros, mesmo que subentendidas e
em jeito de inspiração) para fazer um bom
livro. É no entanto uma história que se lê
razoavelmente bem.
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