No tempo em que se desmultiplicam
os canais de comunicação, no tempo em que os
fluídos de informação cobrem o universo, no
tempo da globalização, as fronteiras são um
equívoco.
Porém, há quem diga que
existem sempre fronteiras, emergindo de certos
voluntarismos políticos, ou das
reconfigurações sociais do mundo
contemporâneo. Há as fronteiras que são
exploradas pelo progresso científico e
tecnológico: a fronteira do desconhecido, que a
ciência pensa e a tecnologia manipula.
As fronteiras são
obstáculos, mas também desafios. Do lado de lá
da fronteira há um mundo novo para descobrir e
inventar. Entre cá e lá, na linha de fractura,
trabalham os contrabandistas. Por isso, sem
fronteiras, os contrabandistas não existem,
embora o seu ofício anule todas as fronteiras.
Em Setembro de 1998,
seremos uma vez mais os contrabandistas do
futuro.
Vamos pensar fronteiras
para as identificar. Vamos temperar fios de
navalhas que separam "nós" de
"eles", "cá" de
"lá", vamos construir pontes, refazer
ligações, saborear interditos, para tornar o
futuro possível. Vamos fazê-lo aqui, em
Cascais, na periferia do Império, bem perto do
sítio onde a Europa encontra o Atlântico (no
ano da Expo 98 dedicada aos Oceanos) e no lugar
exacto onde o céu descobre o inferno (em Cascais
esta fronteira tem nome: "Boca do
Inferno").
É certo que os
habitantes da fronteira são muito ciosos da sua
pequenez, mas também é verdade que, talvez por
viverem sobre uma frágil linha, estão quase
sempre prontos a inventar mundos sem fronteiras.
O "Quinto Império", que António
Vieira concebeu no século XVII, é este
universo. O império do pensamento e da palavra.
O império das imagens e dos sons. O triunfo da
energia que flui sem constrangimentos. A vitória
do espírito, não sobre a carne, mas sim com a
carne. O universo inteiro contraído à beira do
desconhecido. É esta a nossa herança, se é que
um bando de contrabandistas pode herdar uma
quimera.
Se quiser assistir às
manobras de tal contrabando, não falte em
Cascais, no próximo mês de Setembro. Por um
instante, Cascais estará bem no centro do
Império.
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